fevereiro 08, 2007

Recordações de viagem: Guatemala e Panamá

No dia 17 de Novembro de 2000 parti de Hong Kong para uma inesquecível viagem de 25 dias, no começo de quase dois meses de férias.
A primeira paragem foi em Nova Iorque onde, porque lá voltaria, deixei a maior parte da bagagem. No aeroporto tinha uma maravilhosa surpresa à minha espera: as duas princesas da tia, a mais nova das quais pude abraçar pela primeira vez.
Depois de várias atribulações que meteram vôos NY-Houston-Dallas-Guatemala City, cheguei finalmente a Antigua, a antiga capital da Guatemala.
A casa onde fiquei era deliciosa, foi construída em 1567. Fiquei num quarto independente num 1o.andar, enquanto toda a casa é de piso térreo, com um pátio cheio de flores e estátuas antigas. Tinha vista para dois vulcões.
A cidade e as pessoas eram simpáticas. Quase todas as casas são de piso térreo com muitas influências espanholas e com recantos verdadeiramente encantadores. Viam-se imensos descendentes de Maias pelas ruas.
Deliciei-me a passear pelas ruas, a viajar para trás no tempo, tendo todo o tempo do mundo para tirar fotografias à vontade (acho que é quase a única vantagem de viajar sozinha).
Depois estive em Tikal, que é espectacular, porque fica completamente no meio da selva; foram os monumentos impressionantes, no meio de uma vegetação luxuriante que ainda cobre imensos e que assim continuarão para não desequilibrar o ecossistema...
Foram os cheiros da selva, os ruídos dos pássaros, dos macacos e sei lá de que outros animais, como os beija-flor (minúsculos e rapidíssimos), um pica pau de crista encarnada, tucanos em miniatura com bicos maiores que o corpo, uns primos de perus, de papa-formigas, etc.
A seguir fui para Chichicastenango onde fiquei num dos hotéis mais espectaculares do país porque está todo decorado com peças antigas; o meu quarto era lindíssimo e dava a sensação de andar para trás no tempo... aliás todo o hotel era assim...
Aí havia um mercado, repleto de gente com os trajes regionais, uma paleta de cores e de expressões, um misto de sagrado e de profano, o catolicismo acompanhado dos cultos locais; assisti ao baptizado de dezenas de crianças e levei um raspanete do sacristão por causa das fotografias.
Continuei para o lago Atitlán onde fiquei extasiada com a paisagem - 3 vulcões envoltos em flocos de nuvens, que mais pareciam blocos de algodão de um branco imaculado, com uma luminosidade indiscritível, verdadeiramente indiscritível, porque o sol estava estranho com reflexos prateados no lago que por sua vez se reflectiam nas nuvens.
Aproveitei a proximidade para ir até Copan, nas Honduras, ver o que os Maias ali deixaram e que tem características diferentes de Tikal; enquanto Tikal se caracteriza por construções mais imponentes em termos arquitectónicos, Copan tem características mais artísticas para além de ter inúmeros testemunhos escritos que permitiram investigar muito a civilização Maia. Aliás a enorme escadaria com os degraus repletos de hieróglifos contribuiu muito para a sua classificação como património mundial pela UNESCO.
No dia seguinte fui a Quiriguá outro sítio com vestígios maias; aí só existem estelas, tudo no meio de uma imensa vegetação e com pássaros a cantar por todo o lado, e depois fui passear no Rio Dulce, até Livinsgton que já tem muitas características caribenhas principalmente em termos de população.

Seguiu-se o Panamá, em casa de um casal de pianistas que conheci em Macau, pois o Jaime Ingram, que na altura era também embaixador do Panamá em Madrid, integrou o júri do concurso Vianna da Motta.
Nos primeiros dias passeei pela cidade, super-moderna e bem arranjada, visitei o famoso canal, adorei o Museo del Canal.
Na última semana em que estive no Panamá fui ao arquipélago de San Blás (Kuna Yala) onde vivem os índios Kuna que se caracterizam por uma política de não abertura à civilização, mantendo-se muito arreigados às suas tradições e modo de vida comunitário.
Mal cheguei à ilha levantou-se um temporal tal que o meu quarto ficou sem parte do telhado... No entretanto, eu estava deitada em cima da cama tapada com mantas e plásticos.
Os Kuna são na sua maioria bastante desagradáveis o que provoca a animosidade de quase toda a gente a começar pelos panamenhos: o sistema obriga a que os turistas estejam sempre acompanhados por alguém da comunidade e que paguem um dólar por cada fotografia que queiram tirar, e só após obtida a concordância dos guias, ou então depois de comprarem molas - o trabalho artesanal mais característico da comunidade que consiste em panos de várias cores cozidos entre si e que são, em grande parte dos casos, muitíssimo trabalhosos. Cada mola pode chegar aos sessenta dólares.
Ao invés, os índios Emberá bastante mais primitivos e que vivem na província de Darien e verdadeiramente no meio do mato, são muito mais simpáticos; andei a fazer ecoturismo nessa zona, vi pássaros, capivaras e uma águia Harpia (o símbolo nacional do Panamá) com nove meses que tinha um bicho que a mãe já tinha caçado nessa manhã entre as patas; a aguiazinha estava no alto de uma árvore enorme, mas pude vê-la relativamente bem porque comprei um telescópio adaptável à máquina fotográfica e os guias também tinham um telescópio simples e binóculos; a mãe, por sua vez, devia estar a controlar-nos porque a ouvíamos com imensa nitidez mas infelizmente não conseguimos vê-la; e no dia anterior vi falcões a tentarem caçar um esquilo, o que para minha grande alegria não aconteceu enquanto por ali andei...
Quanto aos índios, ficámos um dia a dormir na tribo, que não tem nem electricidade, nem geradores, nem água canalizada (tomam banho no rio), deitam-se ao pôr-do-Sol e levantam-se quando este nasce, os homens andam de tanga e as mulheres nuas da cintura para cima e muitos andam pintados com motivos inspirados na fauna e na flora.
Por incrível que pareça nenhum dos seus mitos tem a ver com a astronomia - nada sabem sobre o Sol, as estrelas, as constelações... só sobre a natureza terrestre que os rodeia... Falam um dialecto que não tem forma escrita apesar de estarem a pensar em arranjar uma forma de escrita que lhes permita perpétuar as suas memórias e tradições na sua própria língua...
Porque foram umas férias inesquecíveis: Guida aqui fica o testemunho para que te inspires.
O resto do tempo foi passado em NY, entre sobrinhas, visitas a museus, compras e frio, muuuuiiiiito frio.

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