fevereiro 07, 2007

Brotada

Zhongdien, Abril 2006

A nossa imaginação não tem, de facto, limites.
Quando uma mente está em pleno processo de processação de dados das muitas associações de ideias que se fazem quotidianamente, o resultado pode ser um prato especial: Brotada!
Para além de especial é, de certeza, original. Quem já comeu Brotada?
Quando a meio da madrugada de hoje me perguntaram se queria comer esse petisco, fiquei intrigada. Nunca tinha ouvido falar. Mas não o comerei nunca. Sim, porque Brotada são aftas de vaca fritas envoltas em queijo.
Pode eventualmente haver quem goste...
Se há quem coma túbaros, rins, miolos, tripas, provavelmente também poderá haver quem goste de aftas de vaca fritas envoltas em queijo. Pelo menos a concepção tem algum requinte! Na onda da nouvelle cuisine!
Mas a criatividade da concepção assenta em algo muito mais profundo: Aborta - imperativo do verbo Abortar; entre as duas palavras só sobra a letra d!
No fundo é isso que se está a dizer! É isso que estão a querer! Aborta à vontade, mulher!
E é cada vez maior a força com que visceralmente sinto que NÃO!
Por isso, quando me propuseram comer Brotada, acordei e não voltei a adormecer.
E fiquei a pensar...
Tenho visto as notícias e a postura dos apoiantes de cada um dos lados. E o alarmismo com que os do Sim começaram a semana... Preparem-se para os papões do Não, porque eles estão desesperados e vão fazer coisas terríveis nos próximos dias...
Dei comigo a analisar a coerência das posições.
Os do Sim são, na sua maioria, os que supostamente mais se insurgem contra a pena de morte, contra a tortura, contra o desrespeito pelos direitos humanos, contra as touradas, contra a caça (aos animais e às bruxas que fazem o aborto), os que se consideram mais iluminados (sim, porque os do Não são uns tacanhos ignorantes e chantagistas, que devem ser caricaturados, mesmo em programas pagos com o dinheiro de todos os contribuintes incluídos os que votarão Não!...), mais esclarecidos, mais inteligentes, mais p'rá frentex, mais open mind!
Os que, em contacto com outros hábitos e costumes, talvez com mais facilidade provem comidas a que não estamos habituados...
Aqui por estas bandas do Oriente teriam muito por onde se espraiar: gafanhotos, escorpiões e baratas fritas, na Tailândia; cão, gato, rato, sangue de tartaruga acabada de decapitar na mesa, miolos de macaco vivo, na China; bílis, testículos e patas de urso, no Cambodja; canja de cão feita a fogo lento, na Coreia...
Como consideram que os fetos não passam disso mesmo, dei comigo a pensar que talvez não lhes repugnasse comer os "petiscos" feitos em Taiwan com bebés abortados (que muitos de nós pudémos ver nas imagens que circularam na internet).
E pensei-o sem a ironia com que escrevi este texto, sem exageros.
Triste. Porque acredito que alguns seriam capazes de o fazer.
Quem me dera que este mundo fechasse para balanço e abrisse de novo sem abortos, sem homens e mulheres estéreis a sofrer porque não podem ter filhos, sem violações sexuais, físicas, psicológicas, sem abusos de poder, sem a prepotência destrutiva que tantos homens impõem aos seus semalhantes e à Natureza...
Seria um paraíso mas, como não sou uma mulher de fé, não acredito que ele exista.
Pena que os sonhos de Thomas More e de Tommaso Campanella não se tenham realizado... que não acabem as razões para que a "Utopia" continue a constar nos dicionários.
Todos precisávamos d' "A Cidade do Sol".
NÃO! d' "O Triunfo dos Porcos".
Já agora, a fotografia foi escolhida porque toda a gente acha que as galinhas são estúpidas; mas até elas protegem os seus pintaínhos.

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