julho 04, 2006

Ninho vazio

Coloane, Abril 2006

Há semanas fui surpreendida com o aparecimento de um ninho, com três ovinhos, numa das árvores do meu jardim. Um presente da Primevera! Nem o facto de aquela ser casa de tantos cães afastou a decidida mãe que, entre algumas saídas para se alimentar, lá zelava com carinho os seus futuros rebentos, assustadiça sempre que nos aproximávamos.
A Natureza é tão perfeita que nem o vento e a chuva trazidos por um tufão, não muito ameaçador, conseguiram destronar aquela pequena obra de arte.
Primeiro um, no dia seguinte os outros dois, lá apareceram os carequinhas depenados, cujos bicos se esticavam sempre que pressentiam algum movimento perto. As penas foram começando a desenvolver-se. Ontem encontrei o ninho vazio... a mãe esvoaçou numa árvore perto... de repente encontrei um dos bebés morto no chão, enquanto outro, a custo, tentava equilibrar-se numa das mangueiras, ainda sem fruto, ali perto.
Como a noite se aproximava, resolvi colocá-lo de novo no ninho pois ali estaria mais protegido - apesar do instinto protector ter tentado sugerir-me que o levasse para dentro e o alimentasse durante mais uns dias, até que estivesse mais forte para resistir às chuvadas que quotidianamente vão caíndo. Enquanto o tinha na mãos comecei a sentir uma horrível comichão na cara, no pescoço, nos braços... Só depois de o ter deixado a salvo no ninho percebi o que se passava: estava repleta de minúsculos (quase microscópicos insectos). Fiquei sem perceber de onde tinham aparecido. Se da mangueira, se do passarinho... Tive de ir para dentro tomar um banho.
Cerca de duas horas mais tarde resolvi verificar se estava tudo bem, se a mãe o estava a proteger. Não, nada estava bem... a mãe não estava e, quando me aproximei, nada mexeu dentro do ninho... o meu segundo passarinho tinha morrido e a praga dos minúsculos insectos continuava. Acho que foram eles que o mataram. Quem me dera tê-lo levado para dentro, quem me dera não ter respeitado esse pequeno e tão decisivo momento da ordem natural. Assim, apenas um sobreviveu. Espero que no próximo ano venha aconchegar-se no ninho vazio que ficou no meu jardim.

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